domingo, 25 de agosto de 2013

Onomatopeia

-Knock, knock, knock!
Exclamava ele conforme subia as escadas, com passos vagarosos. Tadeu subia um riso malicioso nos lábios, um olhar soturno. Tadeu persistia em suas onomatopeias:
-Knock, knock, knock!
A porta ao fim do corredor estava fechada, trancafiada e bloqueada por uma enorme pilha de moveis, uma medida desesperada de proteção, e conforme as sombras dançavam sob a luz da lua, Tadeu continuava:
-Knock, knock, knock!
Os passos se tornavam aos poucos abafados, e o som de aproximação cada vez mais baixo, o medo jamais ausente, e conforme os passos silenciavam, o medo gritava no peito, Tadeu diante da porta, agora diz:
-Toc, toc, toc!
Sequenciados e bem ensaiados, o som das batidas na porta não podiam ser mais ritmados, a infernal sincronia denunciava um destino imutável, diante de todas as horas da vida, essa era a última.
-Toc, toc, toc!
A cada sequencia, a voz de Tadeu ia lentamente diminuindo, e as batidas aumentavam de intensidade, a tal ponto que, se tornaram brutais. Eram terríveis socos, o desespero e a dúvida eram crescentes quando madeira é a única salvaguarda.
-Toc, toc, toc!
As batidas cessaram a voz também, agora elas davam espaço para um som desproporcionalmente alto, as pequenas batidas se tornaram terríveis golpes, não demorou o recomeço da onomatopeia:
-Poc, poc, poc!
Talvez um martelo, uma marreta, ou uma mão provida da colossal brutalidade, Tadeu estava tentando por a porta abaixo, a voz alta já se tornará um grito, as batidas faziam tremer toda a barricada, o medo era angustiante, a paralisia foi involuntária.
-Poc, poc, poc!
As batidas, cada vez mais fortes, quão grandes são as muralhas da fortaleza interna? Provavelmente muito menores do que a rígida porta de madeira, e muito mais fina do que os móveis nela encostados, a porta começara a rachar.
-Poc, poc, poc!
Insuportáveis, nada mais nada menos que insuportáveis, os gritos, as batidas, à noite lá fora, a incessante ideia de morte transcorria cada nervo do corpo, que quase inerte, esperava uma chance de vida, um socorro, uma ajuda, e assim o primeiro estilhaço voou.
-Klunk!
Um grande pedaço de madeira, em queda livre ao chão, um terrível som, e aqueles olhos, ahh aqueles olhos atrás da porta, Tadeu devorava com eles, seu riso, purulento, rangia por desejo de carne.
-Crack!
O grito que destruía, conforme as ensanguentadas mãos de Tadeu punham a porta abaixo, ele repetia incessantemente essa palavra, e quando ele conseguiu atravessar a porta, seus olhos dilataram, como os de um lobo faminto.
-Crash
O som pôs toda a barricada ao chão, as fortes pernas de Tadeu se bastarão de um golpe para por a porta abaixo, agora com uma insaciável fome ele se dirigia até sua vítima, a encurralou na parede, e, e, ah, coff, ahhh, coff, gasp!
-Ih, ih, ih, ih!
 Ahh! Aquele riso, Juliana jazia morta enfrente a Tadeu, que por sua vez apreciava o corpo como uma obra de arte. Tamanha foi a brutalidade que ela nem ao menos conseguiu terminar sua narrativa fúnebre.
  “Bbrzzzz”. O som do pequeno gravador ao lado da de Juliana, que ainda persistia em gravar, denunciava cada passo daquele terror noturno, os rastros de sangue caminhavam até o lado de fora da casa, Juliana era a 5° vitima do monstro de Anville, e apenas agora tínhamos conseguido alguma pista, o homem sem registros, passado e nem presente, o homem que agora tinha um curioso titulo é o único nome, Tadeu, o “Onomatopeia”.

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