-Knock, knock, knock!
Exclamava ele conforme subia as escadas, com passos vagarosos.
Tadeu subia um riso malicioso nos lábios, um olhar soturno. Tadeu persistia em
suas onomatopeias:
-Knock, knock, knock!
A porta ao fim do corredor estava fechada, trancafiada e bloqueada
por uma enorme pilha de moveis, uma medida desesperada de proteção, e conforme
as sombras dançavam sob a luz da lua, Tadeu continuava:
-Knock, knock, knock!
Os passos se tornavam aos poucos abafados, e o som de
aproximação cada vez mais baixo, o medo jamais ausente, e conforme os passos silenciavam,
o medo gritava no peito, Tadeu diante da porta, agora diz:
-Toc, toc, toc!
Sequenciados e bem ensaiados, o som das batidas na porta não
podiam ser mais ritmados, a infernal sincronia denunciava um destino imutável,
diante de todas as horas da vida, essa era a última.
-Toc, toc, toc!
A cada sequencia, a voz de Tadeu ia lentamente diminuindo, e
as batidas aumentavam de intensidade, a tal ponto que, se tornaram brutais. Eram
terríveis socos, o desespero e a dúvida eram crescentes quando madeira é a única
salvaguarda.
-Toc, toc, toc!
As batidas cessaram a voz também, agora elas davam espaço
para um som desproporcionalmente alto, as pequenas batidas se tornaram
terríveis golpes, não demorou o recomeço da onomatopeia:
-Poc, poc, poc!
Talvez um martelo, uma marreta, ou uma mão provida da
colossal brutalidade, Tadeu estava tentando por a porta abaixo, a voz alta já se
tornará um grito, as batidas faziam tremer toda a barricada, o medo era
angustiante, a paralisia foi involuntária.
-Poc, poc, poc!
As batidas, cada vez mais fortes, quão grandes são as
muralhas da fortaleza interna? Provavelmente muito menores do que a rígida porta
de madeira, e muito mais fina do que os móveis nela encostados, a porta
começara a rachar.
-Poc, poc, poc!
Insuportáveis, nada mais nada menos que insuportáveis, os
gritos, as batidas, à noite lá fora, a incessante ideia de morte transcorria
cada nervo do corpo, que quase inerte, esperava uma chance de vida, um socorro,
uma ajuda, e assim o primeiro estilhaço voou.
-Klunk!
Um grande pedaço de madeira, em queda livre ao chão, um
terrível som, e aqueles olhos, ahh aqueles olhos atrás da porta, Tadeu devorava
com eles, seu riso, purulento, rangia por desejo de carne.
-Crack!
O grito que destruía, conforme as ensanguentadas mãos de
Tadeu punham a porta abaixo, ele repetia incessantemente essa palavra, e quando
ele conseguiu atravessar a porta, seus olhos dilataram, como os de um lobo
faminto.
-Crash
O som pôs toda a barricada ao chão, as fortes pernas de
Tadeu se bastarão de um golpe para por a porta abaixo, agora com uma insaciável
fome ele se dirigia até sua vítima, a encurralou na parede, e, e, ah, coff,
ahhh, coff, gasp!
-Ih, ih, ih, ih!
Ahh! Aquele riso,
Juliana jazia morta enfrente a Tadeu, que por sua vez apreciava o corpo como
uma obra de arte. Tamanha foi a brutalidade que ela nem ao menos conseguiu
terminar sua narrativa fúnebre.
“Bbrzzzz”. O som do
pequeno gravador ao lado da de Juliana, que ainda persistia em gravar,
denunciava cada passo daquele terror noturno, os rastros de sangue caminhavam
até o lado de fora da casa, Juliana era a 5° vitima do monstro de Anville, e
apenas agora tínhamos conseguido alguma pista, o homem sem registros, passado e
nem presente, o homem que agora tinha um curioso titulo é o único nome, Tadeu,
o “Onomatopeia”.
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